domingo, dezembro 11, 2005

Sem título à altura

Näo chovia nem fazia sol. Sozinho, contemplava as ondas que traziam e levavam pedaços de histórias de sucessos e fracassos. Lá dentro, uns quantos pontos negros em cima de tábuas brancas, amarelas, vermelhas, quebravam a monotonia do vai-vem das marés. Sozinho, murmurava, sentindo o vento frio bater-lhe na face, ainda que aquecido pelo capuz. Murmurava pensamentos desconexos, na tentativa de tentar perceber o que o teria levado a sair e vir a correr para a praia, porque é que näo parara até lá chegar, porque é que lá chegado näo se sentia nem melhor nem pior: apenas diferente.
Dizem que o mar nos transforma e acalma, mesmo com toda a sua violência explícita dos rebentamentos enérgicos contra tudo o que se lhe opões. Mas n o transformou. No entanto, tinha a certeza de estar diferente, sabia que näo era o mesmo. Lá no fundo, uma aberta entre as nuvens permitia avistar um pôr-do-sol confuso, em que o reflexo daquele brilho intenso era projectadonum fundo cinzento. Em baixo dourado e espelhado, em tons de azul e verde, em cima, o cinzento, que nem envolve como o preto, nem abraça como o branco: é cinzento, e pronto. Quanto mais tentava compreender, menos compreendia. Típico. Era sempre assim. Uma rotina que se instala à medida que se vai conhecendo melhor o mundo, as coisas que o compöem e as pessoas que o habitam.
Os murmúrios pararam. De olhar fixo na linha em que muitos acreditavam o mundo acabar, também ele acredita que o mundo é quadrado, talvez uma espiral. Finalmente percebeu o porquê de lá estar. O sol é agora uma bola de fogo que se afunda no fim do mundo, lá longe. O brilho na água é intenso, täo intenso que olhá-lo fixamente é difícil, impossível. Por isso fecha os olhos. E, de olhos fechados sente um calor que lhe refresca a cara e lhe diz que, por mais difícil de compreender que seja a vida, ele irá ter sempre aquele pôr-do-sol que lhe relembra que nada faz sentido mas que mesmo assim (ou talvez por isso) tudo vale a pena.

A vertente literária de J.P. Bernaux veio ao de cima durante a elaboraçäo deste texto. Esperemos que seja a última vez... uuuaahhhahahahahaha!

peace
1luv
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